A Poética da Morada
Meu trabalho é uma forma de arqueologia afetiva: nele, cerâmica e casa se fundem como matéria e alma. Parto da ideia de que o barro ultrapassa sua natureza física para se tornar um testemunho silencioso de um lugar, a memória primordial da própria terra. O processo começa nas estradas, caminhando por paisagens, vilas e cidades em busca das marcas de antigas casas, esses fantasmas arquitetônicos que guardam histórias sussurradas pelo tempo.
Desses espaços, não recolho apenas imagens. Trago comigo a essência dos territórios: as argilas selvagens, colhidas e transportadas até o ateliê, tornam-se o fundamento material e simbólico da obra.
No espaço de criação, essa matéria impregnada de história se converte em morada. A casa opera simultaneamente como tema, suporte e objeto.


Como tema, é o símbolo universal do abrigo, da memória e do pertencimento. Como suporte, é a superfície primordial onde inscrevo texturas, cores e rastros das minhas andanças. Como objeto, é a peça final, utilitária ou escultórica, erguida como um novo abrigo, carregando todas as camadas desse percurso.
Cada obra nasce de um ritual íntimo de transmutação. Da coleta do barro à modelagem e à queima, realizo uma espécie de alquimia poética: transformo o solo de um lugar em casa para a imaginação. Minhas peças não representam casas, elas são casas. Fragmentos de paisagens internalizadas, cartografias afetivas moldadas em argila e fixadas pelo fogo.
É nesse diálogo contínuo entre caminhar e habitar que construo uma poética da morada, uma obra que se oferece, antes de tudo, como lar para as memórias que a terra decide guardar.

Will Comin
Apaixonado por cerâmica, Wil Comin cria peças únicas que refletem a cultura local. Cada casinha é feita à mão com cuidado e dedicação, resultando em verdadeiras obras de arte. Amor pela arte que inspira cada criação.
“A cidade é a minha inspiração. Eu saio pela cidade e tem muitas casas antigas, são verdadeiras joias da arquitetura popular. Eu gosto de fazer a arquitetura popular e vernacular – casa de fazenda, casa de pau a pique, de taipa. Na cidade eu tiro foto de casas antigas ou vestígios antigos. Tem uma tipologia antiga, essa mistura da coisa antiga com o novo me atrai”.


